Nunca compreendi a necessidade de dizer palavrões num jogo de futebol. Nenhum árbitro, dirigente, treinador ou jogador profissional se sente minimamente beliscado na sua honra quando isso acontece. A explicação pode ser tanto de que tais criaturas desconhecem o conceito de "honra", como o facto de desenvolverem ouvidos de mercador muito cedo no exercício desta peculiar actividade. A única excepção a esta regra é se forem árabes, tiverem um nome começado por “Z” e alguém se referir, em amena cavaqueira a meio campo durante a final do campeonato do mundo, à irmã deles.Sempre me pareceu muito mais eficaz ser ofensivo sem recorrer a palavrões. Estes últimos podem ser sinónimo de um estado emocional alterado, de um momentâneo lascar do verniz e, como tal, perdem a força da crueldade calma, educada e premeditada.
Ainda há bem pouco tempo um estudante, a caminho do Erasmus em Roma, cruzou-se com o “Cebola” Rodriguez no aeroporto de Pedras Rubras (Nota: sim, é verdade, também digo “Ponte Salazar”, “Lourenço Marques”, “Nova Lisboa”, “Bombaim”, “Ceilão”, etc.) e chamou-lhe, com toda a justiça, legitimidade e naturalidade, “Traidor” e “Judas”. Foi prontamente agredido por membros da comitiva portista, o que só demonstra cabalmente o meu ponto de vista.
É inequívoco que cantar “Em cada dragão há um leão” é tremendamente mais depreciativo do que qualquer palavrão que nos sintamos tentados a usar. A frase recíproca então: “Em cada leão há um dragão”, é de tão mau gosto que tive sérias dúvidas em usá-la neste post. Afinal de contas, conheço pessoas decentes que sofrem da síndrome da lagartice adquirida e embora ainda não haja cura conhecida, continuo esperançoso.
Dito isto, é evidente que não estou contente com o que se passa na Luz. Não se pode ter dois pesos e duas medidas, a menos que estejam ligados à arbitragem, aos conselhos de justiça e disciplina, à federação, à liga ou, numa só palavra, ao “pitodourado”. Não gosto quando cantam “Ò Pinto da Costa vai pó caralho”. Não gosto, não acho produtivo. Sugiro que, em vez disso, ponham a música do Padrinho a tocar no sistema sonoro ou entoem a “Saia da Carolina”.
O mesmo é verdade quando nos pontapés de baliza mencionam constantemente as mães do guarda-redes adversário. Também detesto. Em primeiro lugar eles são, em geral, umas abéculas abortivas tão feiinhas que ao gritarem “filho da puta!!!” estão, inadvertidamente, a promover as progenitoras a um estatuto social mais elevado do que aquele que na realidade ocupam. Depois, porque penso ser infinitamente mais divertido e lesivo gritar “Vítor Baía” ou “Ricardo” aquando da reposição da bola em jogo.
Termino com um exemplo na primeira pessoa. Num Benfica - Porto de boa memória estava sentado na primeira fila a uns escassos metros da linha lateral. O Benfica ganhava, pelo que os apanha bolas, cumprindo o seu dever cívico, começaram a desaparecer e os que restaram pareciam afectados por uma estranha apatia. Um jogador adversário, na sofreguidão de não perder tempo, abeirou-se de mim para ir recolher uma bola antes do lançamento. Aproveitei a oportunidade e disse-lhe calmamente: “desejo-lhe que os seus filhos morram de cancro”. O homem ficou possesso, a metralhar saliva e ameaças num descontrolo absoluto e não fosse a pronta intervenção dos stewards tinha tentado uma à Cantona em mim. Tal foi o desacerto subsequente que foi substituído sete minutos volvidos. Não só ganhámos como as criancinhas continuam de boa saúde. Simples, não?
Não creio que isto te faça perder leitores... Muito pelo contrário! Eu, que sou fã de bola e palavrões (no sítio certo), só não venho cá mais vezes porque não dá... ;)
ReplyDeleteVery good! I miss you and I love you and your family
ReplyDeleteEstás no bom caminho para cumprir o teu objectivo, mesmo assim ainda te falta um bocadinho....
ReplyDeleteAcabar com o insulto no futebol era como acabar com a touros de morte em Barrancos (do ponto de vista dos habitantes da tal vila alentejana e adeptos da coisa, está claro): o fim de uma tradição que se perde na história.
ReplyDeleteDigo eu que sou fã de um joguinho de futebol, mulher do norte, portista e portuense de gema e, é claro, uma verdadeira lady quando estou a ver futebol :D
Hit them where it hurts!
ReplyDeleteÉ o segundo "Como perder leitores" e ainda continuo a vir cá. Acho que não está a surtit o efeito desejado..
ReplyDeleteP.S.: PORTOOOO!
Acho que os "leitores" gostam de ter o que ler... Senão seriam apenas "viewers" (a tradução visteiros pareceu-me demasiado futebolística, ainda que perfeitamente enquadrada neste texto... não me pareceu trnasmitir a ideia correcta). Já agora, será que tás nos teus dias? :)
ReplyDeleteCelestino "O Rei da Selva" também é contra os palavrões, aofensas e afrontas no futebol... eu gosto do Celestino e gosto do Ervi. Para quem não conhece procure a pérola na Liga dos Últimos.
ReplyDeleteLeixoes... E mai nada!
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