Primeiro Post

É a minha primeira vez. A sério. Uma vez tirei um blog do nariz quando era pequeno mas a minha mãe apanhou-me em flagrante delito mesmo no momento em que me preparava para o colar nas calças de bombazine cenoura que minha avó Etelvina havia trazido de Badajoz.

Escusado será dizer que nunca consumei o acto. O psiquiatra disse-me que nunca tinha visto um caso tão exuberante de blogus interruptus. O sintoma mais conspícuo deste terrível síndroma é a incapacidade total para lidar com ervilhas. Ervilhofobia crónica, aguda e a médio prazo.

Depois de anos de pedopsicoterapia vegetariana foi possível chegar a uma explicação: o meu blog de infância era verde e redondinho tal e qual a mais truculenta das ervilhas e, para mim, era ainda mais bonito que a nossa senhora de Fátima.

O Blog era parte de mim, tinha o meu ADN, tinha-o secretado com amor, tinha-o dado à luz sem epidural. Na minha mente pueril comer ervilhas equivalia a um acto de canibalismo narcisista, a uma autofagia demente, a uma pedofilia em massa, a um crime contra a Humanidade. Pior que isso, equivalia a comer a nossa senhora de Fátima. Por Trás. Sem maionese. Sem apelo nem ovos escalfados.