No dia 26 de Agosto de 1978, João Paulo I inicía o seu Pontificado de 33 dias. Em Portimão, no Algarve, a vida de Ervi prepara-se para mudar para sempre. As férias na casa alugada com as baratas marroquinas estão quase a acabar. Ervi vai à casa de banho fazer xixi e uma dor excruciante trespassa-lhe a uretra. O petiz contorce-se com dores e acerta em quase tudo que é azulejo enquanto vai soltando “ais” e “uis”. O Pai Ervilha apercebe-se do sucedido e pergunta se arde como o cara***. Ervi com um esgar de sofrimento na face acena que sim. A Epopeia do Prepúcio Perdido tinha começado.
O primeiro médico consultado é da moda, de topo, daqueles que agora já tem uma rua nas Olaias com o seu nome. Propõe a circuncisão a frio, sem qualquer anestesia, pois Ervi parece-lhe um miúdo sobredotado e maduro. Os Pais Ervi concordam babados e vão piorando as coisas. Sim, é um génio, é o maior, é muito corajoso, se o Sr. Dr. tiver um cutelo de cozinha pode ser já aqui.
Só quando o excelentíssimo Doutor decide que Ervi tem retrognatismo e sugere fazer um enxerto de osso da anca no maxilar inferior é que o entusiasmo dos progenitores Ervilha começa a esfriar. Isso e o preço de tal ideia peregrina.
Nada como um médico da Caixa, portanto. E este era mesmo especial, lidava todos os dias com os estivadores do porto Lisboa. Um talhante de primeiríssima água, dizia palavrões como se não houvesse amanhã e, no entanto, inspirava imensa confiança.
Depois das análises corriqueiras e da observação da pilinha Ervilhal in loco, a intervenção cirúgica com anestesia geral (Deus seja louvado) é marcada para uma Clínica da Reboleira. Ervi acha que na Picheleira seria muito mais apropriado.
No dia da operação Ervi está calmo. Para ele é uma aventura e sabe que vai apanhar a primeira pedrada legal da sua vida. Chegado à Clínica é encaminhado para o bar onde dois meninos da mesma idade e um gajo dos seus 18 ou 19 anos esperam. Vem uma enfermeira fazer perguntas: circuncisão, circuncisão, circuncisão. O gajo mais velho cora, gagueja e diz apêndice. Chegado o grande chefe esquartejador pergunta à enfermeira quantos são. “Três circuncisões e um apêndice”. Franzido as sobrancelhas o cirugião maravilha vocifera “Qual quê! Hoje é só caralhos!!!”
Ervi, já enfiado numa bata verde para lá de sexy que deixa o seu rabiosque laroca bem à vista e deitado na marquesa do bloco operatório, conversa com o anestesista que lhe pede para contar até dez em voz alta. Quando chega ao “três”, as luzes rodopiam momentanemente e apagam-se, exactamente como nos filmes.
Famoso desde tenra idade pelo seu acordar irascível, Ervi não deixa os seus créditos por mãos alheias no que diz respeito a acordar de uma anestesia geral. Segundo lhe relataram posteriormente foi tal e qual uma cena do “Exorcista”. Foram precisas quatro pessoas para o segurar, enquanto Ervi se arqueava em espasmos múltiplos e injuriava a dignidade e o bom nome de todos os presentes. Tal foi o arraial que o médico quando saíu da sala de operações inquiriu no se estilo muito próprio “Quem foi o cabrão que fez um chinfrim danado?”. Um maqueiro inclinou a cabeça na direcção de Ervi. O médico aproximou-se, fez-lhe uma festinha na cabeça e sorrindo disse: “Tu prometes, Ervi, tu prometes!”
No dia seguinte, já em casa, vão chegando as primeiras visitas. Como não tem gesso para exibir e recolher assinaturas, Ervi decide mostrar as jóias da família a quem quiser ver (Ed: ainda hoje ele é assim). A avó J. fica em extâse quando descobre que Ervi já tem uns pelitos, de tal maneira que os conta. São dezassete pintelhos. Poucos mas bons. Ervi nunca mais se esquece desse número e logo na altura tem a presença de espírito para saber que o evento dará uma boa estória no futuro, só não sabe que é pouco provável que alguém acredite nele, pois apesar de quase todas as famílias serem disfuncionais, a sua é bastante original.
Chegado o dia de tirar os pontos, Ervi vai com o pai pela última vez ao consultório das Janelas Verdes. Na sala de espera está um senhor com elefantíase que durante muitos anos foi personagem nos pesadelos de Ervi. O médico diz a Ervi para não se coibir de gritar enquanto lhe tira os pontos. Alguns segundos depois o nosso pequeno Leguminoso percebe o porquê de tal indicação. As dores são de uma intensidade insuportável e Ervi só não perde os sentidos porque são absolutamente agudas, quer em intensidade, quer em duração.
O médico explica que alguns dos pontos são biodegradáveis e saem naturalmente com o tempo. Também dá uma pomada e exemplifica como se aplica, ou seja, de uma forma em tudo similar ao gesto masturbativo. Enquanto isso o pai Ervilha chora a rir e a sua cumplicidade com o médico atinge o seu zénite. Ervi é tótó e está a apanhar bonés enquanto os ouve a dizer “Pedes à mamã ou outra senhora para fazer isto”,”Também podes fazer sozinho três vezes por dia”,”Mesmo quando a pomada acabar continua sempre a fazê-lo para o resto da vida”...
Dez anos volvidos e o último “ponto ecológico” lá se dignou a sair. Ervi é um cavalheiro e acha que seria de mau gosto contar se houve, ou não, uma senhora que involuntariamente engoliu essa última recordação da circuncisão.
Nota: Num futuro próximo haverá um post sobre as vantagens dos descapotáveis desportivos sobre os amendoins sedentários.
13 comments:
Que linda história, Ervi.
Fantástica mesmo!
Abraço from Mozambique
Que momento tão bonito... Porque não guardaste o prepúcio num frasquinho de formol?
Imagino que, ainda hoje, passes a pomadinha 3 vezes por dia...
Fiteiro!
eu ja leio e ja comento, mas primeiro: desafio no blog, caro Erbis. e sim, tens de me explicar tudo que eu nao sei nada ca de cunhas...
batoteiro...
e os outros a morrerem na sala de espera...
**
Nunca uma circuncisão foi tão engraçada!
Ervilhinha não imaginas o que me ri com a tua história. Quero mais destas. :-D
Primanocte,
Obrigado pela visita e comentário. Retribuirei em breve!
Alf,
Ofereci-o à caridade, saiu a uma velhota na quermesse da Igreja.
Quanto à conversa abichanada da pomadinha (e depois sou eu), hoje em dia já só ponho uma vez. Das 7h às 10h da manhã...
Dra. Poisoned,
Curiosa! :P
Maria,
Pelo menos não uso sapatos de cunha!
Thunderlady,
Eu diria que essa frase poderia ser verdadeira "na óptica da utilizadora"!!! (obrigado pelo elogio)
Kitty Fane,
Não faço ideia do teu grau de especialização em anatomia masculina (nem sei se quero saber, ahahaha), mas esta Ervilha só vinha com UM prepúcio de origem, não há mais :D
O que é que têm sapatos de cunha? Bem giro! Tenho imensos! Sandálias e botas. Eu e a Maria é que sabemos.
Esta história é gira comó...(c)prepúcio perdido!!!
AT
Mais uma vez: mas que gLande estória!
Pena é de não me recordar do tal ritual q dizes existir aí por casa! Das vazes q aí fui ...não me recordo de me terem sido mostradas as "jóias da família"......Terá sido falta de "etiqueta e boas maneiras"?
Hummmmmm...
Sempre em gLande, sempre em gLande.
Continua
mhmalhoa
Ervi,
passo a publicidade ok?
Não comento.. dores...
Novos gatos, outros assuntos, novo formato, maior qualidade. Visitem:
http://sevenblackcats.blogspot.com
Sejam bem-vindos
Poisoned, nós é que sabemos, sim senhora!!
Ervi: deixa-te de histórias, tinhas 25 anos e choraste como um menino..
Poisoned e Maria,
O que vocês querem sei eu!!! :D
Sapatos e sapatinhos, não é verdade?
AT,
Isso da história ser "gira", não é a mesma coisa de quando uma gaja é "muito simpática", pois não?
MHMalhoa,
Obrigado querida. Já falei com a S. e vamos fazer uma reunião tipo "tupperware" em que eu mostro a pila a quem quiser ver...
Maria,
As coisas que eu te contei por e-mail eram privadas!!! ;)
Post a Comment