Qualquer Dia

Ontem fiquei a matutar na extinção do brinde e da fava dos entre folhos do bolo-rei. Sim, eu matuto. Será que ainda se pode mandar alguém à fava? Ou é tão démodé que pareceria uma ervilha alienígena? E acham que a fava vem referida na tão propalada Constituição Europeia ou foi remetida a um ostracismo agonizante?

A Europa tem destas coisas, a bem dizer, tem destas paneleirices. Então não se pode matar o porco? É pena, pois há por aí tanto suíno bípede que anda mesmo a pedi-las! E nem sequer é pelo pobre do quadrúpede, é por questões higiénicas e sanitárias. Será que o que não mata já não engorda? Quem nunca se deliciou com enchidos caseiros, chouriços artesanais feitos à mão com amor, que levante o bracinho!

Eu desde que, aqui em casa, me apareceram palitos individualmente embrulhados, perdi toda a minha fé e entusiasmo pelo sonho Europeu. Gosto da livre circulação de profissionais da indústria do sexo e pouco mais. Sinto-me numa camisa-de-forças. Qualquer dia é proibido matar o touro, é obrigatório apanhar a caca do cão, não se pode usar colheres de pau e deixa de haver galheteiros nos restaurantes!

Se não nos pomos a pau, mesmo sem colher, quando dermos por ela é proibido fumar nos hospitais, escolas, transportes públicos e elevadores. Acreditem! Num país como o nosso, onde o "Nacional Maria-Vai-Com-As-Outras ismo" está entranhado no código genético vai ser um ver se te avias. Qualquer dia há ecopontos e as pessoas vão ter vergonha de não reciclar. Qualquer dia não se vai poder fugir ao fisco. Qualquer dia a saúde e a educação deixam de ser gratuitas e tem de se arcar com taxas moderadoras e propinas. Qualquer dia não vou poder escrever “um caralhão do caralho”, uma figura de estilo clássica e intemporal, no meu próprio blogue, sem ter de pagar uma coima às autoridades competentes. Phoenix, Arizona!

PS: Por amor ao Espírito Santo, nem na Alemanha Nazi era obrigatório reciclar!