Wednesday, April 2, 2008

O Sorriso

Durante a infância e o início da adolescência ia com regularidade a Alvalade ver o Sporting pela mão do meu pai. Apesar de toda a sua paciência e fé no ditado “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, a verdade é que nunca me converti ao lagartismo.

Ia de livre vontade, vestido à civil, pois o meu amor pelo jogo supera qualquer tipo de clubite (Ed: à excepção dos andrades, claro!) e até hoje o meu fascínio pelo espectáculo das multidões, mesmo fora das quatro linhas, mantém-se intacto.

Estacionávamos perto de onde é hoje o Museu da Cidade e o campus da Faculdade de Ciências e percorríamos a pé as poucas centenas de metros que nos separavam do estádio.

Debaixo de viaduto do Campo Grande havia um vendedor de merchandise que apregoava ininterruptamente “É Pó Cú! É Pó Cú! Almofadinhas prá bola”. Eu achava aquilo o máximo e desatava a rir convulsivamente, afinal de contas não se devia dizer a palavra “cú” nem baixinho, quanto mais aos gritos daquela maneira. O meu pai também sorria, naquele tempo em que os olhos ainda lhe brilhavam, em que os jogadores tinham amor à camisola, em que a ignorância e a incompetência faziam as vezes da corrupção.

Só mais tarde percebi que o sorriso do meu pai não era tão inocente quanto o meu...

4 comments:

Clepsydra said...

Lá diz o povo, "não ervi sem senão..." Sportinguista?! Tsch, tsch...

Anonymous said...

E que jeito dá a bela da almofadinha! é que 90 minutos de cu sentado na velha bancada de pedra, vai lá, vai...
Comigo, a teoria do ser do contra, foi inversa à tua. O meu avô bem me levava à Luz a ver o Benfica, mas eu lá no fundo, tinha alma de sportinguista.

Su said...

Lá tinha de vir a piadinha, não é ; )).

Bjks

Pérola Negra said...

Hoje em dia ir à bola é bem diferente... Já não se vendem almofadinhas pró cu! Também com esse pregão corria-se o risco de havar muito menos gente nas bancadas, muito menos jogadores no campo e muito mais gente a correr atras do vendedor!!