Monday, October 6, 2008

Como Perder Leitores (Parte II) : Bola e Palavrões

Nunca compreendi a necessidade de dizer palavrões num jogo de futebol. Nenhum árbitro, dirigente, treinador ou jogador profissional se sente minimamente beliscado na sua honra quando isso acontece. A explicação pode ser tanto de que tais criaturas desconhecem o conceito de "honra", como o facto de desenvolverem ouvidos de mercador muito cedo no exercício desta peculiar actividade. A única excepção a esta regra é se forem árabes, tiverem um nome começado por “Z” e alguém se referir, em amena cavaqueira a meio campo durante a final do campeonato do mundo, à irmã deles.

Sempre me pareceu muito mais eficaz ser ofensivo sem recorrer a palavrões. Estes últimos podem ser sinónimo de um estado emocional alterado, de um momentâneo lascar do verniz e, como tal, perdem a força da crueldade calma, educada e premeditada.

Ainda há bem pouco tempo um estudante, a caminho do Erasmus em Roma, cruzou-se com o “Cebola” Rodriguez no aeroporto de Pedras Rubras (Nota: sim, é verdade, também digo “Ponte Salazar”, “Lourenço Marques”, “Nova Lisboa”, “Bombaim”, “Ceilão”, etc.) e chamou-lhe, com toda a justiça, legitimidade e naturalidade, “Traidor” e “Judas”. Foi prontamente agredido por membros da comitiva portista, o que só demonstra cabalmente o meu ponto de vista.

É inequívoco que cantar “Em cada dragão há um leão” é tremendamente mais depreciativo do que qualquer palavrão que nos sintamos tentados a usar. A frase recíproca então: “Em cada leão há um dragão”, é de tão mau gosto que tive sérias dúvidas em usá-la neste post. Afinal de contas, conheço pessoas decentes que sofrem da síndrome da lagartice adquirida e embora ainda não haja cura conhecida, continuo esperançoso.

Dito isto, é evidente que não estou contente com o que se passa na Luz. Não se pode ter dois pesos e duas medidas, a menos que estejam ligados à arbitragem, aos conselhos de justiça e disciplina, à federação, à liga ou, numa só palavra, ao “pitodourado”. Não gosto quando cantam “Ò Pinto da Costa vai pó caralho”. Não gosto, não acho produtivo. Sugiro que, em vez disso, ponham a música do Padrinho a tocar no sistema sonoro ou entoem a “Saia da Carolina”.

O mesmo é verdade quando nos pontapés de baliza mencionam constantemente as mães do guarda-redes adversário. Também detesto. Em primeiro lugar eles são, em geral, umas abéculas abortivas tão feiinhas que ao gritarem “filho da puta!!!” estão, inadvertidamente, a promover as progenitoras a um estatuto social mais elevado do que aquele que na realidade ocupam. Depois, porque penso ser infinitamente mais divertido e lesivo gritar “Vítor Baía” ou “Ricardo” aquando da reposição da bola em jogo.

Termino com um exemplo na primeira pessoa. Num Benfica - Porto de boa memória estava sentado na primeira fila a uns escassos metros da linha lateral. O Benfica ganhava, pelo que os apanha bolas, cumprindo o seu dever cívico, começaram a desaparecer e os que restaram pareciam afectados por uma estranha apatia. Um jogador adversário, na sofreguidão de não perder tempo, abeirou-se de mim para ir recolher uma bola antes do lançamento. Aproveitei a oportunidade e disse-lhe calmamente: “desejo-lhe que os seus filhos morram de cancro”. O homem ficou possesso, a metralhar saliva e ameaças num descontrolo absoluto e não fosse a pronta intervenção dos stewards tinha tentado uma à Cantona em mim. Tal foi o desacerto subsequente que foi substituído sete minutos volvidos. Não só ganhámos como as criancinhas continuam de boa saúde. Simples, não?

9 comments:

Nikky said...

Não creio que isto te faça perder leitores... Muito pelo contrário! Eu, que sou fã de bola e palavrões (no sítio certo), só não venho cá mais vezes porque não dá... ;)

Anonymous said...

Very good! I miss you and I love you and your family

Margarida said...

Estás no bom caminho para cumprir o teu objectivo, mesmo assim ainda te falta um bocadinho....

Marta said...

Acabar com o insulto no futebol era como acabar com a touros de morte em Barrancos (do ponto de vista dos habitantes da tal vila alentejana e adeptos da coisa, está claro): o fim de uma tradição que se perde na história.

Digo eu que sou fã de um joguinho de futebol, mulher do norte, portista e portuense de gema e, é claro, uma verdadeira lady quando estou a ver futebol :D

Restelo said...

Hit them where it hurts!

L e o n o r * said...

É o segundo "Como perder leitores" e ainda continuo a vir cá. Acho que não está a surtit o efeito desejado..

P.S.: PORTOOOO!

Anonymous said...

Acho que os "leitores" gostam de ter o que ler... Senão seriam apenas "viewers" (a tradução visteiros pareceu-me demasiado futebolística, ainda que perfeitamente enquadrada neste texto... não me pareceu trnasmitir a ideia correcta). Já agora, será que tás nos teus dias? :)

Ritititz said...

Celestino "O Rei da Selva" também é contra os palavrões, aofensas e afrontas no futebol... eu gosto do Celestino e gosto do Ervi. Para quem não conhece procure a pérola na Liga dos Últimos.

Anonymous said...

Leixoes... E mai nada!