Ao espelho olha-me um estranho
Recluso em corpo emprestado
Que fado este tamanho
De ser um velho malvado
O espelho inverte, não mente
Tempo é sempre o de agora
Só mesmo a imagem não sente
Qua a vida anseia ir embora
As rugas de alma zangada
Da existência desperdiçada
Da escolha do tudo, de nada
Trespassam a tez bronzeada
Só os olhos fazem jus
Ao homem que por ali passou
São como centelhas de luz
Acesas por quem já amou
Com um grande bocado de ausência
Entre minhas torpes mãos a tremer
Pondero na frequência
Em que só penso em morrer
Tempo andaste na má vida
Não me deste que fazer
Muita jornada perdida
Muitas vidas por viver
Poema gentilmente cedido por Frederico Murça e reproduzido com permissão.
Imagem do quadro “Barão de Guisantes” por El Greco (Toledo, circa 1603)
5 comments:
já pensaste numa carreira como letrista de fados?
Eu não, mas o Frederico já escreveu para a Dulce Pontes e para o Camané. Se não fosse tão jovem teria, de certeza, sido cantado pela Amália.
EAdSM
oh ervi, a mensagem nao era para ti, era para o fm...
bjs para os dois
Como sabes, e ao contrário de mim, o FM não gosta das luzes da ribalta...
Mas garanto-te que se o El Greco ainda fosse vivo já tinha retratado o Frederico e, com sorte, até a Amália!
ele manda bjs pati
Ervi mensageiro
O El Grego foi clarividente. Retratou com bastante pormenor uma pessoa muito querida. O trabalho está excelente, a poesia está fantástica. Parabéns!
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