Quem lê os meus devaneios com regularidade já percebeu, certamente, que o meu quotidiano decorre entre o lar doce lar, o Colombo e Londres. Uma vez fui à Expo 98 e outra à Pollux e pouco mais. Não me arrependo, pois achei a Pollux um sítio deveras interessante.
Com o advento da internet e das compras on-line, sinto cada vez menos vontade de ir a lugares diferentes e de ver outras pessoas. Sou um Ervilha Eremita com todo o gosto, de barba e cajado e mau feitio e tudo. Não sofro de agorafobia, o que é pena pois deixar-me-iam de azucrinar para sair mais de casa. Afinal de contas não há nada tão bom para afastar as pessoas do que um claro diagnóstico médico de problemas psiquiátricos. Talvez uma doença terminal ainda seja melhor, daquelas bem contagiosas, mas isso seria definitivo demais.
Outra das razões para este estado de coisas prende-se com a falta de privacidade que tenho em público por causa do sucesso estrondoso deste blogue. Estou constantemente a ser assediado para dar autógrafos e tirar fotos com crianças ranhosas ao colo.
Mas o pior ainda é aquela sensação de estar sempre a ser observado e a ouvir as vozes em surdina a dizer “É ele não é?”, “Pensei que fosse mais alto”,” É mesmo bonito, o raio do homem”, “Ai veste-se tão mal, parece um pedinte”,”Onde já se viu não usar gel no cabelo? Assim nunca vai ser ninguém”,”Ouvi dizer que ganha mais que o Rui Costa”,”Parece que anda enrolado com a Odete Santos e a Maria Rueff em simultâneo”
Tenho saudades de poder escarafunchar o nariz à vontade, de mandar uma cuspidela para o chão, outra para o ar, de coçar os testículos, de me assoar à futebolista, de tirar as cuecas de dentro do rabo, de tentar passar à frente das velhas nas filas das caixas do Continente e de todos esses pequenos prazeres que as pessoas normais podem desfrutar de forma inconsciente. Acreditem ou não, até tenho saudade de ser maltratado nas lojas, nos restaurantes, nos transportes públicos e quando estou de barriga para baixo na sauna.
Depois de me ter inscrito no Solinca com um nome falso e fazer os possíveis e os impossíveis para não ser incomodado em demasia, tendo inclusive recorrido a uma discreta mas eficaz equipa de guarda-costas, vi hoje todo o meu esforço ruir pela base, como um castelo de cartas.
Uma das coisas que me atraiu logo desde o início foi o que eles chamam “a pista de jogging”, que não é mais que umas lajes de cimento dispostas sequencialmente no telhado do Colombo e com umas indicações tipo “200m” pintadas à mão no chão. A “pista” nem sequer tem um percurso de circuito pois existem vários becos sem saída.
Pouca gente se aventura por lá uma vez que o ruído dos ares condicionados e o cheiro nauseabundo das chaminés dos estaminés de fast-food tornam a atmosfera praticamente imprópria para seres vivos.
Claro que eu adorava. Até despia a camisola e andava por lá em tronco desnudo a laurear a pevide. A sensação de estar absolutamente sózinho, num local que recebe 30 milhões de visitantes por ano e é de longe o sítio mais frequentado do país, era fenomenal.
Sempre gostei de andar de um lado para o outro feito animal enjaulado. Ajuda-me a pensar. Muitos dos “posts” deste blogue foram fecundados ali, ao sol, à chuva e ao vento, naquele telhado com vista para Monsanto e para a Catedral.
Qual não é o meu choque, hoje, quando olho em direcção à Quinta da Luz e todos os andares cimeiros dos prédios voltados para o Colombo estão pejados de populares e mirones profissionais que me gritam, acenam e ostentam faixas como “Ervi, vim de Newark de propósito, dá-me a tua camisola”, “Fill me with your babies”,“E quem não salta gosta do Contra Cultura” e mesmo um enigmático “Ervilhas Albinas jamais serão vacinas”. Até me deu vontade de chorar...
Por isso, se me viram nas revistas cor-de-rosa esta semana não estranhem. E aquelas marcas mesmo por baixo do bikini, não são estrias, era uma sombra de uma antena que tinha uns fios ou assim...(Juro).
5 comments:
Pobre ervilha,o estrelato tem custos muito elevados, eu que o diga, deste que fui eleita miss arion, nem o nariz posso pôr fora da janela, os vizinhos debruçados nas respectivas varandas,põem-se a gritar: tira, tira!Não sei o que é que eles querem que eu tirei mas é muito incómodo, isso é.Faça como eu quando quero sair sem ser incomodada, visto-me de mendiga, ganho umas coroas e ninguém olha para mim.Boa sorte!
Caro Ervilha,
Como eu te compreendo. Essa coisa da fama, dos autografos, e das multidões de gente... Quanto às crianças ranhosas, deixa de dar uma de Paulo Portas e diz que tens alergia. Toda a gente vai saber que é mentira, mas sempre ganhas a tal fama de "maluco"... E as celebridades são assim, têm de ter manias.
Adorei o post.
Está credível, a sério que está! :D
Usas slip??????!!!
Ai, tanta mulher! Isto resulta :-)
Miss:estás a melhorar
Bad:Obrigado!
Constança:Obrigado :D
Poisoned: None of your business. Mas como és tu eu abro uma excepção: Ausónia Protege Slip para aquelas coisas que não escolhem nem dia nem hora...
Ervi
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