Fui do Sporting Clube de Portugal durante uma semana, mais precisamente de 18 a 25 de Agosto de 1974. Lamento imenso desapontar a minha legião de fans e espero que não me abandonem (lagarto, lagarto, lagarto) por causa deste meu devaneio infantil.
Foram uns dias de verdadeiro luxo aqueles passados em Torremolinos, no sul de Espanha, no tempo em que a peseta não valia um caracol e os meninos das aldeias mais pobres da Andaluzia cercavam siderados o Peugeot 304 cor de vinho quando o estacionávamos. A matrícula era CF-66-48 e foi o carro da minha vida.
A minha mãe a rebentar de grávida da Miss Piggy bem tentava, em vão, que o meu pai não alinhasse nas corridas, com os muitos amigos que nos acompanhavam de volta, na auto-estrada de Cadiz. Eu incitava-o “mais rápido, ultrapassa, vai ultrapassa” e deitava jocosamente a língua de fora no momento em que os deixávamos para trás.
Pela hora de almoço, já em Portugal, parámos numa localidade Alentejana começada por “E” para almoço. Pode ter sido Elvas, Évora ou Estremoz, não tenho a certeza, mas penso que foi a primeira.
Para grande satisfação do meu pai, esse sim, lagarto, lagarto, lagarto, quando demos por nós estávamos a almoçar ao lado da equipa de futebol sénior do SCP (Nota Privada: estás a ver Bad? “been there, done that!”;-). Os rapazes iam a caminho de um torneio de pré-época quadrangular na capital Andaluz que contava com a presença do Bétis, do Sevilha e do Glorioso Sport Lisboa e Benfica.
Neste momento afigura-se-me importante explicar que o bom gosto salta sempre uma geração na minha família, pelo que a ideia de ter rebento(s) me aterroriza sobremaneira. Não sei se sobreviveria a um(a) filho(a) do Sporting, ou pior ainda, esse cenário de pesadelo, de ter descendência de coração azul e branco. Só de pensar no assunto tenho logo de me ir encharcar em ansiolíticos.
Nesse tempo os jogadores de futebol eram homens a sério. Escassos quatro meses depois de Abril e já todos eram barbudos e exibiam grandes penteados “afro”. Comiam cozido à portuguesa antes dos jogos, bebiam que nem uns alarves e se fosse preciso fornicavam alguém nos balneários durante o intervalo dos jogos.
Grande animação nas mesas, a vida corria escorreita, e às tantas o meu pai volta-se para mim e diz: “Dou-te quinhentos paus se fores ter com o Damas e disseres: Ó Damas, tens umas grandes Mamas”. A minha Mãe, a tentar cumprir o seu papel, enquanto reprimia um sorriso responde “JP, por amor de Deus, não ponhas ideias na cabeça do míudo”. Infelizmente para ela, estava em minoria absoluta e todos os restantes comensais aprovavam a ideia.
Imbuído de espírito de missão, pois em 74 quinhentos escudos eram uma fortuna incalculável para um catraio de 6 anos , dirigi-me à mesa deles.
Chegado ao pé do Vítor Damas toquei-lhe no ombro esquerdo, esperei que ele se voltasse e sorisse para mim e disse “Ó Damas tens umas grandes Mamas!!!”.
Houve uma explosão de gargalhadas, jogadores a cuspir comida e bebida e a rir até às lágrimas. Explicado o motivo da minha intervenção, todos quiseram tirar fotografias comigo. Eu fui simpático e acedi.
Fiquei agradavelmente impressionado com eles e decidi que iria ser do Sporting, afinal de contas talvez conseguisse exorcizar o meu fantasma predilecto, o temível Yazalde, esse maldito avançado argentino que ainda hoje detem o recorde de golos numa época do Campeonato Nacional Português, que me aterrorizava durante o sono ainda mais do que quando o João Bafo-de-Onça fazia maldades ao Mickey.
Uma semana depois o Joaquim Agostinho (SCP) perdeu a Volta a Portugal para o Fernando Mendes (SLB) e pôs um fim à minha insanidade temporária, mas ainda hoje guardo com carinho um panfleto do “III Trofeo Ciudad de Sevilla” autografado no verso por: Vagner, Damas, Manaca, Matos, Valter, Zezinho, Chico, Dé, Inácio, pelo Presidente João Rocha e por mais três jogadores cujas assinaturas não reconheço.
PMT
PS: Este é dedicado aos que se queixam que o "ervilhas" é só ficção e, claro, a esse vulto das balizas, símbolo do eterno rival, Vítor Damas cujo fair play eu retribuo 33 anos depois.
10 comments:
Tive uma paixonite pelo Damas em teenager!!!Aquilo é q era um homem!
Ali.Muita testosterona. Muito bom.
Olha, PMT; julgo que a SF tb terá uma muito boa para te contar, relativamente a um encontro q ela teve , há cerca de 20 anos atrás, com a selecção de Portugal! Pede-lhe para que te conte!
;-)
kisses
mhmalhoa
Ahhhhhhhh......e tb gostei muito do cartoon! Quem é o autor?
mhmalhoa
meu caro todos temos defeitos, nem que seja por uma semanita, eu cá de mim e por pressões familiares (da minha progenitora) até aos cinco anitos fui do SCP altura em que o meu respeitado e admirado tio António me levou ao antigo Estádio da Luz ver o GLORIOSO, desde essa altura o meu coração não teve se não uma cor, cálculo que até essa idade teria os olhos fechados... Nessas alturas cálculo que algumas coisas também sejam perdoaveis,
Um abraço GRANDE CHEFE ERVI
E viva o Benfas!!!!
Não sei quem são... mas o importante é que percebo o sentido do texto, não é??? :)
Ó MHMalhoa, EU???? Uma muito boa com a selecção??? QUE ME LEMBRE só vi a selecção na TV e nem sei quem são /foram / serão os jogadores. O Sr. alemão que me põe doida anda a fazer das suas.
MHmalhoa,
Como tu já me explicaste a SF nunca se lembra de nada a não ser que seja algo mesmo importante (p.ex. alguém começado por Erv...)
Não sei de quem é o cartoon, tu é que és a especialista... roubei-o de outro blog pois em Portugal,ladrão que rouba ladrão tem cem anos de medidas de coação (suaves)
CBA,
Não é um defeito, era um esqueleto no armário...
Mas olha que 5 anos, não sei, em português corrente, isso já é buéréré da time!
Kruzes Kanhoto,
Benvido(a) ao Ervilhas. Have fun!
Poisoned,
É sim, senhora. Se o escritor for bom nem o assunto interessa e muito menos os intervenientes...
SF,
Não se lembra, é? Quem é o Sr. Alemão? É giro? Tem uma wiener/ Frankfurter?
Ervi
Seu vira casacas!!!!! Também, entre o verde e o vermelho, venha o Diabo e escolha... Valha-nos que o céu, esse, continua azul! Pelo menos a Norte. Gostei da história.
Bjs
BG,
O Diabo...Vermelho, claro :)
Para além de ter sido um dos melhores guarda-redes da história do futebol português, Vítor Damas é um dos grandes símbolos da história centenária do Sporting. Há muitos sportinguistas que devem o seu fervor clubístico ao ágil, destemido, intuitivo e elegante guardião que nos anos sessenta sucedeu a Carvalho na baliza de Alvalade.
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