Sunday, June 24, 2007

O Ginásio IV – O Plano



Tinha delineado cuidadosamente o meu plano de sedução. Ervilha, o Leguminoso Misterioso. Primeiro tinha de me pôr em melhor forma. Não queria fazer figuras demasiado tristes aquando das aulas individuais com a Mamífera. Ofegar ao pé dela sim, mas para já não!

Tinha de me metamorfosear numa novel criatura, 50% ervilha macho alfa, 50% ervilha metrossexual. Tirar o cotão do umbigo, feito. Aparar pelos do nariz, feito. Limpar as unhas, feito. Tirar cera das colmeias auditivas, feito.

Pôr perfume, não! Elas gostam de nós a cheirar à homem, como tal é fulcral nunca descurar a regra olfactiva da santíssima trindade: suor, cerveja e tabaco. “Pelo nariz morre a Mamífera”; isto tem a vantagem adicional de eliminar a possibilidade de nos sair uma ranhosa na rifa.

Depilar-me, não e não. A menos que tenham arbustos a crescer-vos nos ombros e/ou uma densa floresta onde vivam animais de pequeno porte. Lembrem-se sempre que somos primatas, selvagens e imprevisíveis. Alisar o pêlo, fazer cafuné e tirar pontos negros são excelentes actividades pós-coitais a menos que tenham sono, precisem de comer uma pizza, haja bola ou queiram repetir a dose.

Mudar de visual, Wroooong! Faux pas monumental! Depois de conhecerem alguém deixem-se estar sossegadinhos. A primeira impressão já está, nada a fazer. Não se ponham a mudar de óculos para lentes, de t-shirt para gravata, de flip-flops para “sapatinhos à foda-se”. Não entrem em crises existênciais e/ou de meia idade e se ponham a fazer tatuagens e piercings. Dêem sempre a impressão do “eu cá sou bom, sou muito bom, sou o maior” e “I don’t care how I look (but I have been known to shower on occasion)”.
Aproveitem-se do facto de as fêmeas mamíferas serem muito menos imaturas, superficiais e visualmente estimuláveis do que nós. Acham-se feios, gordos e mal-enjorcados? Garanto-vos que isso é irrelevante. Se estiverem com falta de confiança, fechem os olhos, respirem pelo abdómen e repitam em transe: “Carrilho tem Barbie, Carrilho tem Barbie, Carrilho tem Barbie”. É Remédio Santo!

Tratado o físico, há que ser muito disciplinado nas atitudes, na linguagem corporal e nas verbalizações. Se fôr apanhado a tirar-lhe as medidas ou a olhar derretido para as covinhas que se formam nas suas bochechas rosáceas quando sorri, todo o plano cai por terra. Focus, ervilha, Focus!

Ser de uma frieza cortante, mas educado, resulta quase sempre. A partir de agora, confiança zero. Um acenar com a cabeça chega e sobra, nada de sorrisos extemporâneos.

Cíume. O meu fertilizante de eleição. De preferência com uma colega de profissão que seja generalizadamente considerada muito pouco interessante. Muita risota, uma mãozinha no ombro, piscadelas de olho, cumplicidade infantil. Convém não abusar pois não queremos que o “isco” se apaixone por nós. Podemos sempre alegar que é um dano colateral desta “guerra” mas não estamos no negócio de partir corações gratuitamente (só a quem o merece).

Outra hipótese é pedir a amigas de confiança para irem ao ginásio com vocês. Aí podem esticar a corda mais um bocadinho. Palmadas no tutu, abracinhos, gargalhadas sonoras, e até mesmo apontar na direcção da Mamífera e soltar umas risadas efeminadas.
Se não tiverem amigas, levem uma irmã, uma prima, uma mãe boazona de peitaça firme (Oh, não sejam assim, pode nem ser a vossa). A única alternativa fora de questão é ovelhas e/ou bonecas insufláveis. Nunca compreendi bem porquê mas as ervilhas fêmeas não têm qualquer sentimento de cíume relativo a objectos inanimados, só de repulsa (à excepção talvez de uns sapatinhos de marca ou umas sandalochas retro-cool)

Tudo isto deve ser suficiente para deixar a Mamífera de rastos (espero eu!). Vai ficar completamente baralhada e gastar horas infindáveis a apertar a pele à procura da celulite e a pôr toneladas de cremes.

Em último recurso pode-se sempre largar a bomba atómica. Nunca tomem esta decisão sózinhos, reunam com o conselho de estado das vossas vidas e oiçam atentamente as opiniões dos anciães. Isto é um assunto muito sério, um acto de crueldade sem paralelo.
Inclusive, tive muitas dúvidas éticas, morais e filosóficas em publicar isto no espaço cibério, mas aqui vai: aproximem-se do alvo com naturalidade, cheirem ruidosamente (como se estivessem a “snifar” cenas que fazem taquicárdia, mas utilizando ambas as narinas), digam “que cheiro tão estranho, que pivete!” enquanto fazem um esgar de náusea (que pode, e deve, ser treinado previamente em frente ao espelho), façam uma pequena pausa para aumentar a intensidade dramática do momento e perguntem na voz mais inocente do mundo “Estás menstruada?”

2 comments:

Anonymous said...

Como anciã, aconselho-te a largares a bomba a uma sexta feira, à tarde. Nem mais nem menos, podendo em contrário provocar uma reacção alérgica de alta escala provocada pela subida de todo o fluxo menstrual para a cabeça da Mamífera. Com paragem forçada nas mamocas para descanso dos pequenos glóbulos! Segue o meu conselho que verás que resulta.

Ervi Mendel said...

Minha querida anónima:
Como ancião e ervilha chefe aconselho-te a tomares os comprimidos!
Beijinhos