Estava a masturbar-me já nem sei porquê. Era uma casa de banho pública razoavelmente limpa e como as coisas estavam a correr parecia-me que se manteria como tal. Tudo indicava que eu não iria conseguir ser feliz nos meus intentos. Estava num mundo demasiado desfocado e surreal para que antingisse o mínimo de concentração necessário.
Tinha ido lá não sei com quem ou era a festa de anos de não sei o quê. Havia muito ruído de fundo e muito descontrolo motor de perto. Assim como se fosse outra pessoa a fazê-lo. Alguém inexperiente e/ou desajeitada. Tinha a mão esquerda apoiada na parede e os rastos de suor que deixava nos azulejos, sempre que a deslocava um pouco, pareciam-me infinitamente mais interessantes do que tentar concentrar-me nas mamas da fulana que se fartaram de me dizer olá na pista.
Nem sei bem como é que era a cara da gaja e por muito que tentasse acho que não iria saber. Mas não faz mal, se calhar nem dentes tinha. Posso sempre pegar noutra cara e pô-la nas mamas, afinal sou da geração do cut and paste. E também podia pegar numa voz e pô-la na cara. Aquela rapariga horrorosamente simpática lá do escritório, por exemplo. Tem uma voz tão sexy que podia fazer fortuna a vender sexo verbal. Uh ah give it to me baby. Si Si No Lo Pares.
Ai, que bela é a vida. Aqui há uns anos nunca teria tomates para fazer uma coisa destas e agora não tenho picha. E isso ainda me diverte. Como acho hilariante o facto de não saber se este cubículo tem fecho e em caso afirmativo não saber se o utilizei.
Aquela coisa que faz anos é muito esquisita. Zilda? Zelda? Que raio de pseudo-amigas pseudo-intelectualmente interessantes que aquele gajo me tenta arranjar. Se calhar ando com a fasquia muito alta. Não metaforicamente, claro está, pois nesse campo isto parece estar a murchar. Para a próxima vou reduzir o meu leque de exigências: que seja grátis e que sejam limpinhas. Não é pedir muito pois não? Sei de muito boa gente que diz não ser esquisita e que exige pernas, braços ou mesmo luxos como depilação feita ou o pior de tudo: meio palminho de cara. Pronto, eu também prefiro quando elas não têm picha, chamem-me quadrado.
Todas diferentes, todas iguais. E umas mais iguais que outras. “és divertido” disseram-me as mamas da pista, ao que eu fantasiei retorquir “isso significa que me posso vir dentro de ti?” quando na realidade disse “tenho que ir mijar”. O.K. nem sequer foi assim porque eu sou um educadinho de merda e o que eu, provavelmente, disse foi “com sua licença minha senhora, vou-me ausentar por breves instantes”. E a emissão segue dentro de momentos.
Tudo culpa do meu tio Joseph Lopes, um luso-britânico de gema, se é que isso existe, que me criou desde os 2 anos e meio. Eu acho que ele nunca percebeu que esse pessoal do norte da Europa é muito educadinho porque têm umas pichotas de trazer por casa. E lixou-me a vida para sempre. Toda a gente sabe que um gajo educadinho não leva nada, nem sobras, nem restos, nem migalhas, nem um pintelhinho para mostrar aos netos. Eu bem que podia ter a maior mangueira do mundo e só me iria servir para morrer estrangulado durante o sono. Já estou a imaginar as manchetes:"Enforcado pelo próprio pénis"(Expresso), "Asfixia Genital"(Público), "Traumatismo Peniano"(Correio da Manhã), "Pila Fatal"(O Crime) e "Sufoco do Caralho" (24 Horas).
Britney Spears. Estão a passar Britney Spears. Devia haver leis para estas merdas. Como é que é suposto um gajo vir-se se a imagem daquela ninfeta siliconada se forma neste pequeno cérebro. Aquela lolita mal-amanhada de umbigo em riste está-me a desgraçar o esquema todo. Por amor de Deus, até com os Village People conseguiria (acho), mas assim não dá.
Niente, nada, rien. Nem um esguichozito para amostra, para deixar a minha marca no mundo. Se tivesse uma caneta ainda poderia escrever algo infantilóide ou divertido ou um graffiti porco, pujante da virilidade que me parece faltar.
Tornar à pista ou não eis a questão. “Olha, estás bem?” perguntaram-me as duas em uníssono, as gémeas bola. Ai, isto da tecnologia dá cabo de um gajo. Com estas cenas todas torna-se cada vez mais provável comer gato por lebre. What a Wonderbra World This Could Be. “Sim, estou. Estava imensa gente. Até cheguei a pensar que estava na bicha para a casa de banho das senhoras”. Começam-se a rir as duas “És mesmo divertido”. “Voces também” desejei responder, mas optei por “Apetece-te tomar algo?”, o que me levou directamente, sem passar pela casa de partida, para o anúncio da Ferrero Rocher, ao Ambrósio e à Condessa, aos chocolates e à anedota. “Sim, um Gin Tónico, querido”.
Querido? Ao que o mundo chegou. Acabou de me conhecer e já me chama querido. Nem sequer fez nada de significativo por mim, tipo simular uns orgasmositos para sossegar o meu ego ou fazer-me uns ovitos com bacon. “Volto já. Não saiam daqui”. Ela olhou perplexa e eu corrigi a rir-me “Não saias daqui. Já devo estar a ver a dobrar...” Que lapsus linguae genial. Quando tinha 17 anos o meu primo Afonso que é um malandro de primeira convenceu-me que um lapsus linguae era quando no furor do cunnilingus se enfiava, acidentalmente, a língua no ânus da senhora. Pelo que durante alguns anos, não vou dizer quantos, tive sempre imenso cuidado para não cometer um tal deslize.
Claro que depois de conhecer a Maria, as coisas mudaram. Oh! Boy, se mudaram! A terra deixou de ser plana e até o sol deixou de girar em torno dela. Eu sabia o abc, mas a Maria levou-me para aí até ao w. E o que foi feito de ti?
“SÃO 2 GIIINS TÓNICOS”. “Não é preciso gritar” respondeu-me secamente a Bartender. Pelo que corei q.b. e pedi desculpa. “Aqui estão elas, quero dizer eles, os Gins Tónicos” disse estendendo um copo na direcção das volumosas manas. Elas continuavam imponentes e eu sabia que iria travar um contacto muito pouco fraterno a curto prazo com elas. “Como conheces-te a Zélia?” Quem é a Zélia? Ah! A coisa que faz anos “ Foi através do Carlos”. Fiquei com a Maria atravessada. Já há muito tempo que não me acontecia. Se calhar podia procurá-la. Já passou tempo suficiente. Ou talvez não.
Entretanto as glândulas da minha eleição, futura perdição, encostaram-se ao meu torso e pressionaram-me com suavidade. Eu já devia estar com pouco sangue no álcool porque pareceu-me ver dois mamilos bem erectos a cumprimentarem-me. E frio não estava. Podia ser só uma reacção mecânica. Um adolescente até é capaz de ficar com pau de levar uma bolada em cheio nas partes. Sorriso. Claro que eu agora até podia ser pino de bowling que nada levantaria.
“Estás a rir-te de quê?” perguntaram-me as minhas novas amigas. “De nada. É que sou tão divertido que me divirto a mim próprio” expliquei-lhe. O que me remeteu instantaneamente para o meu pequeno faux pas no W.C.. Não, o meu primo Afonso nunca inventou nada sobre este assunto. “Se queres mesmo saber estou a rir-me do facto do Carlos ter tentado impingir-me a Zélia”. O novo ataque das ogivas, já armadas, não deixava espaço para dúvidas. “Mereces muito mais”. Que putice do caraças. Com amigas assim quem precisa de inimigas? Decidi olhar para a cara dela. Até nem estava nada mal. Ao contrário de mim que já deveria estar num estado deplorável. Até me ocorreu voltar à casa de banho e tentar outra vez. Desta feita podia pedir uma caneta emprestada, só pelo seguro.
“Mereço mais por ser divertido?” inquiri. “Isso e cavalheiro e se me permites a ousadia, bastante charmoso”. Game, Set and Match. Eu deixaria a parte do cavalheiro para quando lhe prometesse não me vir na boca dela, mas enfim sabe sempre bem. Ouvir estas coisas, quero eu dizer. “Muito obrigado. Mas por certo que nada que se compare à beleza clássica e ao charme discreto da minha companhia”. “Oh, achas mesmo?”. Ai, Jesus que lá vou eu. Quando era mais novo gostava imenso deste jogo, de entoar a canção do bandido, da conversinha de ir ao cú. “Sim, reparei logo em ti no jantar. Achei-te imensamente atraente. Daquelas coisas inexplicáveis, à primeira vista”. Conta-me histórias.
Chamam-se mamas e andam aos pares. E não têm nada de especial a não ser que se tenha o azar de ser do sexo masculino e idade para ler o Tintin. “Sabes, eu também reparei em ti e perguntei logo quem eras”. Grand Slam. Quem disse que os 18 buracos do golfe eram o melhor remédio para o stress do quotidiano? Ninguém provavelmente. Mas houve um amigo meu que me disse que o caminho para o céu passava pelo meio das pernas de uma mulher. Mas também, ele era jovem e nunca devia ter apanhado um dia de céu muito nublado. Ou então estava a referir-se aos joelhos.
“E o que é que te disseram sobre mim?” indaguei sem qualquer curiosidade real. Agora, já estava. Já não dava luta. Era como se fosse uma ejaculação precoce do foro psíquico. Antes de o ser já o era. Talvez também não fosse cem por cento assim. Afinal de contas ia gostar de vê-las a actuar juntas e ao vivo. “Que eras o Mark, amigo do Carlos e trabalhavas numa editora”. Sim, mas que interessante. “Eu é que não sei o teu nome”. E nem queria saber, mas o meu tio Joseph deu cabo de mim. E, convenhamos, há um mínimo. E elas gostam sempre que se grite e/ou sussurre o nome delas. Desde que não nos enganemos, claro. “Eu sou a Márcia”. Que porra de dia, é só nomes esquisitos, devem ser todas jogadoras de futebol. Nem dá para rimas porcas. Ó Márcia brinca aqui com a Acácia não tem lá muita piada “Que nome tão bonito e invulgar”. Os teus pais não gostavam de ti? E as duas irmãs que trazes contigo, como se chamam? E porque é que não és a minha Maria?
“Queres ir?” Como se eu não soubesse. “Sim, tens carro?” “Aqui não, vim com o Carlos” “Vamos no meu, então” Começámos a percorrer a minha Lisboa em direcção ao Rego. Sim, esse facto até me divertiu a princípio. Passámos por uma limusina e eu tive mais uns flashs do Ambrósio, da Condessa e do busto de Napoleão. Falámos de coisas altamente contraceptivas como o trabalho, a vida, o amor e o último disco do Sérgio Godinho. Se o Sérgio soubesse a percentagem de gajas que gosta dos discos dele metia os Iglesias todos juntos nos distritais.
Apesar de estar completamente toldado fiquei gelado quando me apercebi que estava a entrar no prédio da Maria. Que disparate, ela já nem deve morar aqui. Não me digas que a Marciana comprou o apartamento dela. Ou alugou. Ou vivem juntas. Tudo é possível, afinal de contas hoje já estive a masturbar-me numa casa de banho pública. Mas não. É noutro andar. Deus existe. Tem um sentido de humor do caraças, mas existe.
“Queres um café? Estás um pouco lívido”. Que merda é esta, sou um homem ou um roedor? “Não, obrigado. Chega cá”. Ela gaguejou um pouco e disse “Desculpa a desarrumação, gostava que soubésses que nunca fiz isto assim na primeira vez e...” OK, agora vai dizer-me que é virgem ou quase como se fosse e que só depois de ser apresentado e aprovado pelos progenitores é que posso desfrutar das montanhas e vales de Marte. “Eu compreendo. Também nunca tinha sentido isto assim tão forte à primeira vista e..” andam aos pares, normalmente bem aconchegadas dentro de soutiens de marca e já davam cabo da vida ao homo erectus. Que ainda deveria ser o nome da nossa espécie, pois de sapiens só temos as fêmeas. O meu tio bem dizia para nunca subestimar a cabecinha (não por estas palavras), nessa altura já transmutada em besta encapuçada. “Ai, Aiii, Sim Marky, Siiiim”. Wham Bam Thank You Mam.
*****
Eram sete e meia da manhã. Bati à porta suavemente. Depois com mais força. “Quem é?”. Era ela. E ainda fazia disparar o meu coração. “Sou eu”. Tinha uma camisa de noite que eu não conhecia. Com patinhos. Mas também podiam ser gansos. Ou mesmo cisnes. Olhou-me de forma desaprovadora. “Cheiras a sexo”. Desatei a chorar como uma criança. Convulsiva e incontrolavelmente. “Desculpa, eu...”. Deu-me a mão e levou-me para o sofá da sala. “Pronto, sossega”, “já passou, já passou”, “tem calma, pronto, pronto”. Fazia-me festas na cara e no cabelo e lutava estoicamente contra as lágrimas que continuavam a escorrer. As minhas e as dela. Era a Maria contra o dilúvio. E os homens não choram. Apertou-me contra ela. Eram patinhos. E o céu, afinal, era ali. Num segundo andar do Rego.
9 comments:
Volta atrás, volta atrás. Náo gostei deste texto, está grande demais,repete-se a ideia, tem pouco conteúdo, é libidinoso quanto baste, não havia "nexexidade".Paciência,até os génios têm dias menos criativos. Volta estás perdoado!
O ambiente do texto é muito bom, a personagem principal convive com os conflitos do mundo de hoje, a frieza, o calculismo, a falsidade, a falta de fé, a falta de alguém. A caracterização desta pesonagem é excelente, os pensamentos que se repetem refletem a vida em círculo, sem nenhuma saída aparente ou digna. Muito,mas mesmo muito bom. O fim é "to die for". Muito, muito obrigada. Muito bom, excelente.
Sofia T. N.
Cara TT,
Permita-me discordar da sua opiniao. Tal como a SNT, tambem achei este texto excelente, quiça o melhor ate agora publicado neste espaço. No entanto, deixe-me tambem dizer-lhe que os seus comentarios neste blogue o tornaram muitissimo mais interessante, e que agora as razoes da minha vinda diaria a este espaço prendem-se tanto com os posts em si, como os seus comentarios aos mesmos. Muito obrigada. Ate lhe perdoo um incidente que decerto nao se recorda, mas que esta gravado na minha memoria, passado ha cerca de 18 anos, em que a TT me passou uma reprimenda monumental no conselho directivo da escola onde leccionava e eu era aluna.
Um beijinho,
AR
PS - ervilhota, nao fiques triste de o meu comentario ser dirigido a tua mae.... o proximo e para ti, prometo. bj patu
Cara RA, não é SNT é STN
Caro Anónimo,
Não é RA, é Rã
uma das minhas muitas qualidades AR,é ser uma provocadora.Uma das boas coisas que consegui com a minha opinião, que mantenho,foi ver uma reacção "leonina"da STN. Temos MULHERES!O episódio a que se refere está esquecido, o que é natural na minha provecta idade. Espero que mo relembre.Beijos para a STN, a AR e ERVILHA
Rã TAN Plã???
não é rã tan plã, é rantanplan!!!!!
"Estava a masturbar-me já nem sei porquê". !!!!!
Frase delirante! Genial!
Este começo agarra qquer um!
;-)
mhmalhoa
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